sexta-feira, 22 de julho de 2011

Conversas Internas

Tentava disfarçar a sua confusão interna, o seu sufoco, com goles d'água. Preciso de água - repetia para si mesma. Quase não conseguia respirar e permanecia calma, repousando na cadeira. Atirada na cadeira, com os pés no sofá. E sufocando por dentro.
Seus pensamentos estavam confusos na mente, não nessa ordem: a voz de Jane Birkin ora cantando em francês, ora em inglês, os horrores e sofrimentos do Pedras de Calcutá de Caio Fernando Abreu, e... E aquela tarde tão fria e estranhamente pesada. Fria! Depois de tempos sem sentir esse extremo frio, lá estava ele de novo, congelando seus dedos. Mas até que gostava disso; os dedos congelados do frio - eles ficavam brancos e finos, parecia.
Decidiu mudar o álbum no player do computador e queria mesmo dizer que decidiu "trocar o vinil que tocava na vitrola". Tinha esses delírios e essas falas consigo mesma que ou ficava séria e acreditava ser sério ou ria de si. Nesse caso, riu.
Depois de ingerir todos os horrores de Caio Fernando Abreu em Pedras de Calcutá, quis que a água quente do chuveiro relaxasse os músculos da mão e das costas.
Sentiu intensamente o prazer da água quente queimando seu trêmulo corpo frio.
A água confundia a visão, mas não foi isso que a fez ver na vidraça da janelinha vários rostos de John Lennon. Achou graça e começou a ter as suas conversas internas.
O cabelo estava mais curto e já não era mais a "criança calma e chorona". Como se alguém tivesse perguntado, ela respondeu em meio de um riso torto: "É, chorona... Sempre fui".
Ficou estranha e séria. Sentiu os pés queimando por causa da água quente e acolhedora.
Não adiantava tentar esconder ou ocultar os seus reais pensamentos. Não adiantava tentar esconder a angústia.

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